sexta-feira, 29 de outubro de 2010

a flor e a nausea

preso á minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
melancolias,mercadorias espreitam-me.
Devo seguir ate o enjoo?
posso,sem armas,revoltar-me?
Olhos sujos no relogio da torre:
Não,o tempo não chegou de completa justiça.
o tempo é ainda de fezes,maus poemas,alucinaçoes e espera.
o tempo pobre,o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.


Em vao me tento explicar,os murros sao surdos.
Sob a pele das palavras ha cifras e codigos.
O sol consola os dentes e nao os renova.
as coisas.que triste sao as coisas consideradas sem enfase.
Vomitar esse tedio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido,sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
todos os homens voltam para casa.
estao menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo,sabendo que o perdem.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe,bondes,onibus,rio de aço do trafego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a policia,rompe o asfalto.
Façam completo silencio,paralisem os negocios,
garanto que uma flor nasceu.


Sua cor nao se percebe.
Suas petalas nao se abrem.
Seu nome nao esta nos livros.
E feia.Mas é realmente uma flor.


Sento-me no chão da capital do pais as cinco horas da tarde
e lentamente passo a mao nessa forma insegura.
Do lado das montanhas,nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar,galinhas em panico.
È feia.mas é uma flor.furou o asfalto,o tedio,o nojo e o odio



carlos drummond de andrade

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